domingo, 30 de maio de 2010

Vestibular


E é nessa hora que vejo o quão dependente eu sou. Aqui, sozinha no 'espaço cultural e de leitura' sentada em uma mesa grande e redonda vendo pessoas indo e outras voltando. Uma hora ainda me resta nesse inferno. Há um homem cercado de papéis na mesa ao lado da minha e mais ao longe, perto da porta dois homens estudam em voz alta. Outro chega falando igualmente alto conversando sobre futebol. O homem ao meu lado se levanta e vai embora e algo suspeito acontece. Um casal sai de dentro de uma salinha a minha frente entitulada 'sala de estudos'. Sei bem. Se não houvesse uma janela seria mais suspeito ainda. O homem que havia chegado se senta à mesa com os outros dois e pelo que me parece discutem alguma matéria de direito. O livro que eu já li e estudei está aberto a minha frente, mas só o que me resta é escrever. Os três se retiram, vão para a biblioteca e me deixam sozinha com o barulho do ventilador. Um cara com a camiseta do direito se senta na mesma mesa aonde o outro estava sentado antes. Os três voltam, mas vão embora em seguida deixando uma pergunta no ar: O que é o princípio da congruência? Minutos se passam e um homem ao celular entra, faz uma pergunta para a voz invisível do ser que com ele conversava. Onde vocês estão? E sai. Outro chega, me olha e sai. Será que eu dou medo? Olho para o cara da camiseta do direito e percebo que ele não está na mesa ao meu lado e sim ao lado dessa. Percebo que esse lugar é muito macabro e tenho medo de ver fantasmas. Eu não quero estudar aqui. Há alguma forma de boicotar a prova? São 7 horas. Meia hora ainda me resta. Escrever me distrai. Me sinto no hospício, como se eu já tivesse ido lá alguma vez. Afe. Barulhos de vozes entram pela minha cabeça e faz com que ela comece a latejar de dor. Quero fugir. Como diferenciar um professor de um aluno? Quem deveria aplicar a minha prova? Outras pessoas chegam para o vestibular e parecem se sentir deslocada como eu. Quanta desorganização! Céus! Uma mulher acende as luzes. Tudo parece menos amedrontador, mas mesmo assim ainda tenho medo. 15 minutos e mais uma pessoa chega. Mais três. 3 minutos. E um cachorro circula livremente pelo prédio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário