terça-feira, 20 de março de 2012

In the arms of the angel...

Vestido rodado, pés descalços. Era aquilo o que ele via naquele momento, ela em sua frente, como ele sempre quis. Seus olhos verdes contrastavam com a pele alva e lhe traziam a calmaria que tanto procurava. Dentro deles ele encontrava seu passado, seus sonhos, seus desejos mais profundos, mas de uma forma inconsciente. Aquele sentimento que ele tinha ao vê-la, todo aquele frisson era causado por memórias um tanto quanto profundas, que por tal motivo não se faziam claras em sua mente ao voltarem à tona. Estranho sentir algo que alguns dizem ser o tal déjà vu. 
Um simples encontro de almas que se completaram tantas vezes antes e agora não tinham ligação alguma. Não conscientemente. Aqueles dois corações há algum tempo já pertenceram um ao outro e seu fim foi sem um ponto final. As reticências ficaram no ar até aquele momento, momento em que os olhos se reencontram e o sorriso confirma a desconfiança. A estranheza de conhecer alguém que nunca viu n(est)a vida, de sentir-se à vontade na presença de um desconhecido. 
Como poderia sentir-se atraído daquela forma por alguém que nunca vira antes? Ligações inexplicáveis se conectavam enquanto pensamentos insanos ocorriam na mente daquelas duas almas. Como se eu devesse protegê-la de qualquer forma. Como se eu fosse perder minha própria vida ao perdê-la de vista! Nunca fui de acreditar no imaterial, no etéreo, mas quando tais coisas acontecem com a gente, não há como desacreditar. E talvez o etéreo não seja tão impalpável assim, talvez seja tão concreto como meu corpo, como o dela. O corpo que se desfez em minha frente como nuvem de fumaça, assim como o sorriso marcante que levava no rosto. 
Estranho mesmo era pensar que aquilo poderia mesmo ter sido sonho e que realmente eu poderia estar inebriado por tantos problemas que passava no momento, mas para tudo há uma explicação, não é? Ou pelo menos deveria ser assim. A partir do momento em que não pude mais explicar o que sentia, acabei por desacreditar em todos os meus antigos conceitos. Tudo caiu por terra ao perceber que meus olhos haviam me permitido observar a presença de um anjo na Terra. 
Por muito tempo aqueles olhos, aquele sorriso e mesmo aquele vestido povoaram minha mente de forma praticamente exclusiva, porém era a única mente consciente da existência de tal visão. Eu sabia que seria difícil convencer a todos de que eu havia presenciado um milagre. E o pior: de que eu estava perdidamente apaixonado por ele. Ao fechar os olhos e esforçar-me um pouco pude sentir o cheiro de flores do campo que também se faziam presentes no momento da visão.
Não sei exatamente se foi o perfume das flores, se foi o meu desejo de reviver aquela sensação maravilhosa ou então a minha coragem de procurar por aqueles olhos verdes que me perseguiram pelo resto da minha vida. O fato é que meu último suspiro terminou com um sorriso, pois ao acordar para a (nova) vida, tive a confirmação de que ela me esperava. Pude finalmente tê-la em meus braços e descansar deitado ao seu lado naquele campo de flores amarelas.

...maybe you find some comfort here...

sexta-feira, 16 de março de 2012

Parede desilusão

E então foi assim, a bonequinha de corda bateu de cara na parede, mas dessa vez foi diferente, contam os presentes que ela se virou sozinha e continuou caminhando pela sala, como se nada tivesse acontecido. Pensaram que se estatelaria ao chão e que não se levantaria enquanto não viessem ajudá-la, mas para a surpresa deles, ela não se abalou. Talvez já estivesse calejada de tanto encarar aquela parede de forma tão bruta e tivesse aprendido a levantar sozinha. É, talvez tenha sido isso. O fato é que ela não se abalou, talvez já estivesse, no fundo, esperando que hora ou outra isso acontecesse. E digo mais: a parede já tem a forma da face da bonequinha e ela não se assusta mais ao encará-la.