sábado, 6 de agosto de 2011

Bye bye tiny dancer...

Quem sabe o palhacinho de porcelana, tão sem graça não tenha sido confundido com a bailarina de cerâmica? A bailarina, tão delicada, caiu no chão, mas não se quebrou. Porém, dentro dela, o palhacinho tão rude, tão simples, quebrou-se em milhões de pedacinhos e, embora a bailarina tentasse se recompor, o palhacinho lá dentro a impedia. Era impossível colar de volta todos aqueles pedaços no mesmo lugar em que se encontravam antes. A bailarina nunca mais foi a mesma. Seu olhar nunca mais brilhou tanto, nem seu sorriso foi o mais bonito. A bailarina parou de dançar, suas sapatilhas não tinham mais serventia. Era triste olhar para elas enquanto calçava seu salto alto, tão sóbrio. Um contraste imenso de cores, preto do sapato, tão fechado, tão pesado enquanto o rosa da sapatilha era tão lindo, tão suave e delicado... Mas essa foi a escolha do vento, que soprou forte e derrubou a bailarina no chão. Os bibelôs ao seu lado acreditavam que ela conseguira se levantar depois da queda e continuara a ser a mesma de antes, porque achavam que ela era feita de uma cerâmica especial, inquebrável. Mas ela sabia que não. Ela sabia que tudo havia mudado e nada ia voltar ao normal.

Sorria, meu bem! Sorria!

- É ISSO! - disse ela pra si mesma, como se conversasse com seu eu interior. - Talvez seja isso mesmo o que me falta. Um sorriso no rosto! Tenho medo de sorrir. Meus dentes me parecem tão mais bonitos aqui dentro, presos sob esses lábios vermelhos... Mas talvez, somente talvez, eles ficassem melhores se se mostrassem para todos. Se todos os pudessem ver, talvez se sentiriam como tendo um sentido para existir.

E eram realmente lindos seus dentes. Porém, de que adiantava escondê-los? Tudo que é bonito é pra ser mostrado? Diria que em alguns casos sim. Aquela menina tão sem graça, tão sem sal se transformaria de patinho feio a cisne branco nadando no lago mais límpido e claro em dia de sol se sorrisse, mas ela tinha medo de sorrir. Tinha medo de que ninguém achasse bonito seu sorriso, de que ninguém gostasse de sua nova maneira de viver, até porque ela não sabia sorrir.

Um dia a pequena menininha resolveu acreditar em si mesma e abrir a boca, mas foi mal sucedida. Todos começaram a rir de sua tentativa frustrada e, assim a menina parou de tentar. Acreditava que não havia um motivo para melhorar sua aparência, se todos a aceitavam assim, por que mudar? Mas, aos poucos, ela começou a ficar um tanto quanto introspectiva. Já não se enturmava mais com os antigos amigos, não falava mais com seus familiares, sua vida passou a ser vivida em pensamento, pensamentos que ela só dividia consigo mesma e, nem ao menos se tentasse, conseguia abrir a boca.

De calada, a menina ficou muda. Suas emoções tomaram conta de sua face e ela passou a falar com os olhos. Seus olhos diziam coisas que ninguém conseguia ler, coisas tristes, coisas que foram reprimidas e que talvez nunca viessem à tona. A menininha ficou sozinha no mundo e seu sorriso passou a existir somente em seus sonhos.

Havia uma voz dentro dela que dizia que ela deveria pelo menos insinuar seu sorriso, seguir seu verdadeiro sonho: sorrir. Mas ela já era uma adulta e sabia que se sorrisse novamente, todos a iriam ridicularizar e resolveu viver sozinha para sempre.